Síntese da homilia 03/03/2024 – Padre Edemar Endringer
3º DOMINGO DA QUARESMA
O 3º domingo da Quaresma põe no centro os fundamentos do judaísmo – a Lei e o templo. Com o Evangelho, Jesus inaugurou nova forma de experiência religiosa – a nova Lei é fazer a vontade do Pai e o novo templo é seu corpo ressuscitado. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, traduz a “sabedoria da cruz”; ou seja, aquilo que o mundo considera fraqueza, loucura, é a força e a sabedoria de Deus. Trata-se de sabedoria nova, que lança luzes sobre novo estilo de vida, pessoal e comunitário, a ser assumido por todos os seguidores de Jesus.
Nosso empenho quaresmal precisa nos levar a assumir nova relação com o Pai, sustentada pelo dom, pela graça, pela aliança, pelo amor, pela vida, superando a tendência de “troca de favores” e de “cumprimento de normas”.
O biblista italiano Ermes Ronchi, ajuda-nos a abrir o mapa desta reflexão: “Se pudéssemos aprender a caminhar pela vida, nas ruas de nossas cidades, dentro de nossas casas e, gentilmente, na vida dos outros com reverência, como se fosse a casa de Deus, tirando nossos sapatos como Moisés na sarça ardente, então perceberíamos que estamos caminhando dentro de uma enorme catedral. Que o mundo inteiro é o céu, o céu de um só Deus”.
Evangelho (Jo 2, 13-25)
A festa da Páscoa era o momento em que o povo recordava a libertação do Egito. Jerusalém ficava repleta de peregrinos. Jesus estava no templo e “fez um chicote de cordas” (v. 15). Ao expulsar os vendedores e os cambistas, esparramar as moedas e derrubar as mesas, disse: “Não transformem a casa de meu Pai num mercado” (v. 16). Ele evidenciou que a religião não pode ser um comércio, uma troca, um negócio, e que é preciso retornar ao dom, retornar à essência da relação com Deus.
O Evangelho de João, no prólogo, afirma que “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Trata-se de novidade imensa: o templo já não é um amontoado de pedras, mas “o seu corpo” (v. 21). Para entender o templo-corpo, é preciso recordar o evento Jesus Cristo: “Quando ele ressuscitou, os discípulos se lembraram do que Jesus tinha dito” (v. 22). Fazer memória da morte e da ressurreição do Senhor é retornar à identidade da Aliança de Deus com a humanidade, que passa pelo Decálogo e alcança plenitude na cruz.
Jesus Cristo é o novo templo, lugar por excelência do encontro com o Pai. Sobre essa nova condição, Paulo escreveu: “Ou vocês não sabem que seu corpo é templo do Espírito Santo?” (1 Cor 6, 19). Toda pessoa, assim, também é templo de Deus, e toda forma de instrumentalizar alguém – mediante discriminações, violências, preconceitos, ódio – é uma ofensa a Deus. De fato, invocando a tradição dos Padres da Igreja, recorda-se a máxima de Santo Irineu de que “a glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus”.
Participar do corpo vivo de Cristo é assumir uma vida de fraternidade! O caminho quaresmal também é iluminado pela Campanha da Fraternidade, com seu convite à amizade social: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8).
Com base na Aliança de Deus com a humanidade, no itinerário de vida e de liberdade do Decálogo, na identidade de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, somos convidados a assumir a “loucura” da cruz para viver como filhos e filhas, irmãos e irmãs. Nosso compromisso também é ser comunidade sempre mais viva, aberta, consoladora dos mais sofridos, acolhedora dos mais esquecidos e sinal permanente do Cristo Jesus!







